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terça-feira

O que aconteceu aos/às trabalhadores/as da sinistrada boate de Santa Maria?




Prezado Jornalista João Franzin


A comoção e a raiva são sentimentos que nos dominam em face da tragédia provocada em Santa Maria – RS. Ontem escrevi aqui uma crônica que expressa revolta pelo que a fome de lucro foi capaz de causar em termos de um desastre que teve menos relação com acidente e muito mais com culpa por falta de políticas públicas responsáveis e justas para a diversão e para o turismo. Tal falta de consciência faz da Corporação de Bombeiros escritório leviano de baixo nível técnico-científico para examinar e aprovar o funcionamento de tais casas de diversão e das prefeituras, igualmente transformadas em escritórios subornáveis, sob as pressões dos proprietários gananciosos e apressados para aproveitar eventos sociais e altas temporadas de formaturas para faturar, mesmo à custa de vidas promissoras.  A mídia eletrônica através dos blogues mais conscientes não pára de criticar as grandes empresas de comunicação que tudo fazem para obter audiência em cima da dor da tragédia. 

Porém, caro Franzin, como não poderia ser diferente, por tratar-se de um jornalista assessor sindical, tu levantas a questão dos/as trabalhadores/as da boate, geralmente agredidos/as e desrespeitados/as. Primeiro, nenhum órgão da mídia dominante levantou pergunta alguma sobre eles/as nem do que aconteceu nem sobre quantos/as morreram nem  quantos/as se feriram. Nem mesmo jornalistas, até segunda orientação, que são trabalhadores/as também, não se preocuparam com os/as trabalhadores/as da boate. Ontem as poderosas Globo e SBT entrevistaram dois integrantes da banda “Gurizada Fandangueira”, que se apresentaram como empregados do grupo e só. Segundo, denuncias que a mídia burguesa não esboça o mínimo interesse pelos/as trabalhadores/as, geralmente brutalmente explorados/as. É verdade. Essa é a prova cabal de que tudo é tratado com o único interesse capitalista: lucrar e tirar vantagens. Daqui a pouco ninguém mais falará sobre essa matança de jovens e de trabalhadores/as, porque já dará mais lucro.  

Abaixo colei tua matéria levantando as preocupações com os/as trabalhadores/as da boate. Segue em frente, companheiro. 

Abraços críticos e fraternos, sem desistir da luta pela justiça e pela paz, jamais!

Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano. 

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*João Franzin.................................................................................................................

Em nenhuma, rigorosamente, em nenhuma cobertura da imprensa sobre a tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, eu ouvi falar em trabalhador. Será que nenhum funcionário morreu no incêndio? Será que nenhum empregado ficou ferido? 

Será que não ocorre aos jornalistas (um batalhão deles no local) perguntar sobre a condição de quem trabalhava na boate?

Não sei o que ocorria na Kiss, em Santa Maria. Mas nas grandes cidades, em regra, as condições de trabalho desses funcionários são ruins: muita informalidade, ambiente agressivo, jornada esticada nos dias de balada, som alto, convivência com usuários de drogas (usa-se muito droga sintética e álcool), entre outras. Em São Paulo, muitos antigos barracões de fábrica são adaptados para esse tipo de estabelecimento.

A Agência Sindical, onde trabalho, tentou desde as primeiras horas da manhã da segunda (28) falar com algum representante do Sindicato local (Secohtur). Por volta das 11h15, conseguimos falar com a secretária da entidade. Ela informou que estavam com dificuldades de apurar o ocorrido com os empregados, porque tanto os advogados da boate e o escritório que administra a empresa se negavam a dar informações ou citar nomes de eventuais vítimas.

Mas, atenção: a mesma secretária do Sindicato (que seria filiado à Nova Central) dizia haver boatos sobre “a falta” de sete funcionários. Parece que, na hora do sinistro, 23 trabalhavam no local.

Não tivemos como falar com nenhum dos diretores do Sindicato porque todos estavam mobilizados no atendimento às vítimas e ajudando no que cabia. Conseguimos o telefone da diretora Rejane, que havia viajado para Porto Alegre, e tentávamos falar com ela, a fim de levantar informações mais detalhadas.

Não vou a boates porque é o tipo de ambiente que me irrita. Mas sei que são locais barulhentos, cheios de gente e que muitos estabelecimentos funcionam de forma improvisada, sob vistas grossas das autoridades. Na Zona Sul de São Paulo (e em outros locais descolados), enquanto os playboys se divertem, os trabalhadores se desdobram para dar conta das tarefas, não raro em jornadas extenuantes e ainda tendo de aguentar desaforo de bêbado.

A imprensa só mostra o suposto glamour desses locais, que costumam ilustrar as colunas sociais de segunda linha. Quando acontece tragédia, aí a mídia se mobiliza, a fim de faturar com a desgraça alheia. Sobre quem trabalha, como trabalha, quanto ganha, que jornada cumpre, silêncio.

A Agência Sindical, sem querer adotar uma postura quixotesca, está atrás de responder uma pergunta elementar: o que aconteceu com os trabalhadores da boate Kiss?



*João Franzin é jornalista
e assessor sindical

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